domingo, 3 de fevereiro de 2013

Primeiro Conto de Selena a mau-amada: O Italiano.


Selena não andava na melhor fase de sua vida. Todos os dias ao dormir, se agarrava ao travesseiro e imaginava a companhia que poderia ter naquele momento. Seus relacionamentos, em geral, nunca davam certo, mas não por vontade dela, ou por causa dela, não! Era como se o destino não a conseguisse ver feliz, e sempre pregava peças para que os homens não lhe quisessem depois de um tempo. Parece até que nascera com um repelente masculino.
Mas ela sempre tinha uma solução para todas as suas desilusões, que não eram poucas, e em parte deveria agradecer as marcas de sorvete por isso.  Em todo fim de relacionamento, a mulher comprava vários potes de sorvetes, e selecionava um dos filmes que já estavam prontos para serem assistidos em cima do aparelho de dvd. E assim ela tinha uma desculpa de por que chorar.
- Este filme é muito triste. – Respondia quando lhe perguntavam o motivo de suas lagrimas. – Não tem como não chorar. – E assim caia novamente em lagrimas, mesmo quando a cena tinha seus resquícios cômicos.
A história a seguir é de umas das piores perdas que Selena havia sofrido na vida, a do seu namorado italiano. Na verdade, não fora bem um namorado, podia ser considerado como um caso de verão, talvez para ele não tivesse nenhuma importância, mas a jovem sentira uma dor muito grande quando se viu sem o homem.
Tudo começou quando as férias de verão estavam sendo decididas. A mulher era tradutora de romances melancólicos, bem a sua cara, e por isso não tinha muito dinheiro, tinha de abrir mão do luxo. Mas procurando em um desses sites de compra coletiva, achou uma grande promoção de quartos em um hotel de luxo para a praia de Pipa, em Natal. “Esse tem que ser meu.”, pensou.
E assim a nossa heroína ingressou numa jornada rumo à praia, envolvendo o estresse do ônibus, até as confusões entre suas malas e as de uma senhora de oitenta anos com problema de pele. Mas ao chegar deu cara com algo que salvaria as suas férias.
Era um homem espetacular, a sua maneira é claro, mas Selena nunca teve um gosto muito normal para homens, então estava perfeito para ela. Era forte, meio gordinho sim, mas forte! Com cabelos loiros, quase ruivos, uma barba baixa de mesma tonalidade, usava óculos e tinha uma pele alva, que graças ao sol estava um pouco queimada. Quando Selena o avistou o rapaz usava só uma sunga azul com linhas verdes na parte de cima, e não parecia se divertir nem um pouco com aquele programa de verão.
Ela entrou e foi até o seu quarto, ainda pensando no homem que vira na entrada. Ao chegar lá, percebeu logo por que estava em promoção. Era uma espelunca. Um cubículo com uma cama no canto, um armarinho em frente e um banheiro minúsculo ao lado. O.K. Aquilo não poderia estragar as suas férias, afinal nem de praia ela gostava, só gostava do vento batendo nos seus cabelos e de sentir o calor da natureza. E claro, também queria admirar os homens.
Resolveu então, pegar o computador e o livro que traduzia no momento para adiantar o trabalho. Ela gostava de seu trabalho, sempre tinha histórias bem interessantes. Quando foi para sacada do hotel para começar, viu o mesmo homem, mas desta vez usava uma camisa regata om listras e uma bermuda, ele lia um livro que depois de um tempo Selena percebeu ser “Tocaia Grande”, de Jorge Amado. “Um amante de literatura? Perfeito!”, pensou e deu inicio a tradução do livro.
Por mais que ela se esforçasse para trabalhar não conseguia parar de olhar para o rapaz e não sabia ela que ele, por sua vez, a olhava discretamente o que desconcentrava totalmente a sua leitura. Depois de perceber as olhadelas da moça, o homem decidiu tomar a inciativa e foi falar com ela.
-Oi tudo bem? – Falou e Selena percebeu na sua voz um sotaque estranho. – Percebi seus olhares, se quiser eu volto ao meu lugar e nós continuamos a nos olhar.
Ela ficou sem reação diante da atitude do rapaz. Era claro que ela também queria aquela aproximação, mas foi tudo muito repentino, então ela só teve coragem para dizer:
-Oi, eu estou bem.
Os dois se acabaram em rir depois de um tempo, então qualquer sinal de vergonha em ambos sumiu. Conversaram bastante e Selena contou sua vida ao homem que descobriu se chamar Mário, também soube muita coisa ao seu respeito. Ele era um publicitário italiano que viera ao Brasil para visitar seu pai, um especialista na área judiciária. Gostou muito daqui e resolveu conhecer mais da cultura, por isso lia Jorge Amado, algumas palavras lhe eram estranhas como Vosmicê, mas ele tentava levar do seu jeito. A maneira como ele falava o português era engraçado, pois havia aprendido a língua culta, então fazia uso de mesóclises que ninguém mais usa.  Dar-te-ei. Ir-se-ia. E por ai vai. Depois de muito papo o homem decidiu que já estava na hora de aprofundar a relação. Não queria mais ficar no bate-boca, queria algo melhor, e Selena lhe agradava, era uma típica brasileira, pele bronzeada, cabelos pretos cacheados, e um corpo muito bonito.
-Que tal irmos para o meu quarto? – Ofereceu.
Selena ficou receosa, queria muito se entregar de vez ao homem, era verdade, mas como já disse ela não tinha muita sorte com homens, então provavelmente ela se apegaria demais, mas ainda assim respondeu:
-Não seria má ideia! – Deu um sorrisinho maléfico ao falar.
Ai como eu estou puta hoje!”, pensou.
Ao chegarem ao quarto, ela logo notou a diferença do dele para o seu. Era puro luxo, moveis de madeira entalhados a mão, toalhas e cobertas de tecidos macios, e um amplo banheiro. O tempo para admirar o quarto foi pouco, pois o homem lhe pegou nos braços e tascou um beijo. Foi apaixonante, delirante, de tirar o folego. Logos os dois estavam despidos, fazendo tudo o que tinham direito, naquela noite Selena fez coisas que nem sabia que poderia fazer.
Aquilo se estendeu durante o período de três dias em que nossa heroína ficou hospedada lá, não precisou nem bagunçar a cama do quarto que alugou, por que todos os dias ela dormiu na suíte de luxo do seu amado, por sobre o peito do italiano, sentindo o calor gostoso proveniente dele. Foi mágico, fazer loucuras de amor à luz do luar, acordar com um homem só para ela, e brindarem as taças cheias de champanhe no café da manhã. Ela até ficou mais do que o esperado no hotel, mesmo seus três dias de aluguel tendo acabado, o publicitário fez questão de alugar o melhor dos quartos para os dois. Como não amar um homem assim?
Mas como nada dura para sempre, o homem teve de voltar para Itália no mesmo tempo em que Selena teve de voltar a trabalhar. Ele até lhe dera o seu numero com o ddd internacional, mas o contato foi perdido passados alguns meses. E assim, todas as noites Selena se deita em seu travesseiro pensando no peito quente do italiano, pensando em mais um dos seus relacionamentos que não deram certo. Mas… Quem sabe um dia.

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