Selena
não andava na melhor fase de sua vida. Todos os dias ao dormir, se agarrava ao
travesseiro e imaginava a companhia que poderia ter naquele momento. Seus
relacionamentos, em geral, nunca davam certo, mas não por vontade dela, ou por
causa dela, não! Era como se o destino não a conseguisse ver feliz, e sempre
pregava peças para que os homens não lhe quisessem depois de um tempo. Parece
até que nascera com um repelente masculino.
Mas ela sempre tinha uma solução para todas as suas desilusões,
que não eram poucas, e em parte deveria agradecer as marcas de sorvete por
isso. Em todo fim de relacionamento, a mulher comprava vários potes de
sorvetes, e selecionava um dos filmes que já estavam prontos para serem
assistidos em cima do aparelho de dvd. E assim ela tinha uma desculpa de por
que chorar.
- Este filme é muito triste. – Respondia quando lhe perguntavam
o motivo de suas lagrimas. – Não tem como não chorar. – E assim caia novamente
em lagrimas, mesmo quando a cena tinha seus resquícios cômicos.
A história a seguir é de umas das piores perdas que Selena havia
sofrido na vida, a do seu namorado italiano. Na verdade, não fora bem um
namorado, podia ser considerado como um caso de verão, talvez para ele não tivesse
nenhuma importância, mas a jovem sentira uma dor muito grande quando se viu sem
o homem.
Tudo começou quando as
férias de verão estavam sendo decididas. A mulher era tradutora de romances
melancólicos, bem a sua cara, e por isso não tinha muito dinheiro, tinha de
abrir mão do luxo. Mas procurando em um desses sites de compra coletiva, achou
uma grande promoção de quartos em um hotel de luxo para a praia de Pipa, em
Natal. “Esse
tem que ser meu.”, pensou.
E assim a nossa heroína ingressou numa jornada rumo à praia,
envolvendo o estresse do ônibus, até as confusões entre suas malas e as de uma
senhora de oitenta anos com problema de pele. Mas ao chegar deu cara com algo
que salvaria as suas férias.
Era um homem espetacular, a sua maneira é claro, mas Selena
nunca teve um gosto muito normal para homens, então estava perfeito para ela.
Era forte, meio gordinho sim, mas forte! Com cabelos loiros, quase ruivos, uma
barba baixa de mesma tonalidade, usava óculos e tinha uma pele alva, que graças
ao sol estava um pouco queimada. Quando Selena o avistou o rapaz usava só uma
sunga azul com linhas verdes na parte de cima, e não parecia se divertir nem um
pouco com aquele programa de verão.
Ela entrou e foi até o seu quarto, ainda pensando no homem que
vira na entrada. Ao chegar lá, percebeu logo por que estava em promoção. Era
uma espelunca. Um cubículo com uma cama no canto, um armarinho em frente e um
banheiro minúsculo ao lado. O.K. Aquilo não poderia estragar as suas férias,
afinal nem de praia ela gostava, só gostava do vento batendo nos seus cabelos e
de sentir o calor da natureza. E claro, também queria admirar os homens.
Resolveu então, pegar o
computador e o livro que traduzia no momento para adiantar o trabalho. Ela
gostava de seu trabalho, sempre tinha histórias bem interessantes. Quando foi
para sacada do hotel para começar, viu o mesmo homem, mas desta vez usava uma
camisa regata om listras e uma bermuda, ele lia um livro que depois de um tempo
Selena percebeu ser “Tocaia Grande”, de Jorge Amado. “Um amante de literatura?
Perfeito!”, pensou e deu inicio a tradução do livro.
Por mais que ela se esforçasse para trabalhar não conseguia
parar de olhar para o rapaz e não sabia ela que ele, por sua vez, a olhava
discretamente o que desconcentrava totalmente a sua leitura. Depois de perceber
as olhadelas da moça, o homem decidiu tomar a inciativa e foi falar com ela.
-Oi tudo bem? – Falou e Selena percebeu na sua voz um sotaque
estranho. – Percebi seus olhares, se quiser eu volto ao meu lugar e nós
continuamos a nos olhar.
Ela ficou sem reação diante da atitude do rapaz. Era claro que
ela também queria aquela aproximação, mas foi tudo muito repentino, então ela
só teve coragem para dizer:
-Oi, eu estou bem.
Os dois se acabaram em rir
depois de um tempo, então qualquer sinal de vergonha em ambos sumiu.
Conversaram bastante e Selena contou sua vida ao homem que descobriu se chamar
Mário, também soube muita coisa ao seu respeito. Ele era um publicitário
italiano que viera ao Brasil para visitar seu pai, um especialista na área
judiciária. Gostou muito daqui e resolveu conhecer mais da cultura, por isso
lia Jorge Amado, algumas palavras lhe eram estranhas como Vosmicê, mas ele
tentava levar do seu jeito. A maneira como ele falava o português era
engraçado, pois havia aprendido a língua culta, então fazia uso de mesóclises
que ninguém mais usa. Dar-te-ei.
Ir-se-ia. E por ai
vai. Depois de muito papo o homem decidiu que já estava na hora de aprofundar a
relação. Não queria mais ficar no bate-boca, queria algo melhor, e Selena lhe
agradava, era uma típica brasileira, pele bronzeada, cabelos pretos cacheados,
e um corpo muito bonito.
-Que tal irmos para o meu quarto? – Ofereceu.
Selena ficou receosa, queria muito se entregar de vez ao homem,
era verdade, mas como já disse ela não tinha muita sorte com homens, então
provavelmente ela se apegaria demais, mas ainda assim respondeu:
-Não seria má ideia! – Deu um sorrisinho maléfico ao falar.
“Ai como eu estou puta hoje!”,
pensou.
Ao chegarem ao quarto, ela logo notou a diferença do dele para o
seu. Era puro luxo, moveis de madeira entalhados a mão, toalhas e cobertas de
tecidos macios, e um amplo banheiro. O tempo para admirar o quarto foi pouco,
pois o homem lhe pegou nos braços e tascou um beijo. Foi apaixonante,
delirante, de tirar o folego. Logos os dois estavam despidos, fazendo tudo o
que tinham direito, naquela noite Selena fez coisas que nem sabia que poderia
fazer.
Aquilo se estendeu durante o período de três dias em que nossa
heroína ficou hospedada lá, não precisou nem bagunçar a cama do quarto que
alugou, por que todos os dias ela dormiu na suíte de luxo do seu amado, por
sobre o peito do italiano, sentindo o calor gostoso proveniente dele. Foi
mágico, fazer loucuras de amor à luz do luar, acordar com um homem só para ela,
e brindarem as taças cheias de champanhe no café da manhã. Ela até ficou mais
do que o esperado no hotel, mesmo seus três dias de aluguel tendo acabado, o publicitário
fez questão de alugar o melhor dos quartos para os dois. Como não amar um homem
assim?
Mas como nada dura para
sempre, o homem teve de voltar para Itália no mesmo tempo em que Selena teve de
voltar a trabalhar. Ele até lhe dera o seu numero com o ddd internacional, mas
o contato foi perdido passados alguns meses. E assim, todas as noites Selena se
deita em seu travesseiro pensando no peito quente do italiano, pensando em mais
um dos seus relacionamentos que não deram certo. Mas… Quem sabe um dia.
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